quarta-feira, 1 de junho de 2011

Quadro sem moldura

Então ficamos assim, sem moldura
Melhor, mais livre e poético...
Certamente mais ousado e propiciamente criativo
O que seria a moldura, senão o norte ilusório, a âncora da insegurança?
Quem duvida que a essência é mais bela e relevante do que a forma?
Não pode haver comparação digna entre o quadro e a moldura...

No quadro está pintada a alma, os desejos silenciosos estampados, toda a vida que a tinta alcançou
O transcender do ser, a entrega plena
Mas na moldura, que entrega há nela?
Apenas contensão, dureza e frieza há
A vida, o transcender, nela não estão
Apenas o medo que a pintura se esvaia, escape, escorra

Atenho-me então à tela, mais especialmente às suas bordas, como tentativa derradeira de ter um plano, algo que me ajude a direcionar, dimensionar a energia
Essa sim é a primeira escolha...
Alívio...
Ao menos a tela deve, pode ser uma escolha racional
Que tamanho será o quadro que quero pintar? Que textura? A quantas mãos?
Não me importa me render à necessidade de mais telas e cores se toda a minha arte não couber no plano inicial, mas eu ao menos tinha um e isso me traz paz

Abandono aqui o “se” que tanto me perturba e sigo expandindo a arte, com ou sem moldura, em tela torta direita ou cavalete.

Rio, 1/6/2011