Ela fica ali, à espreita, refém dos olhares, dos passantes,
das migalhas
Já aprendeu a cativar, mas segue refém no seu próprio
cativeiro
O das migalhas
E se delicia...com várias...de tamanhos diversos, cores
irresistíveis, formatos inebriantes
Cada migalha tem uma história, uma origem e ela se orgulha,
conhece cada detalhe
Repassa, na sua mente de pomba, as cenas da chegada de cada
migalha
E se delicia mais, saboreia como se estivesse num banquete
Conforme se deleita, se deita e se revela
A aparente inofensiva pomba é da espécie das rolinhas
Daquelas que seduzem coronéis casados
Daquelas que nao têm freio, nem pudor
Se atracam à migalha e não largam não
As rolinhas sao miúdas, astutas e podem avançar no que não
lhes pertence com avidez
Sem freio, nem pudor
Símbolo incontestável de fidelidade, amor e santidade,
paradoxalmente, a rolinha ali, ainda atracada à sua migalha, tem um vislumbre
de lucidez, da sua liberdade original
E instantaneamente não há mais migalhas, nem pedaços, nem partes,
nem restos
Está só e inteira.