segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Dor orientada

Aquece a dor
Refrigera a dor
Liberta a dor

Daí repete o procedimento, alternando a ordem para desordenar a dor

Refrigera a dor
Aquece a dor
Liberta a dor

Frio escaldante
Aquecimento global
Tudo fora do lugar

Da origem ao destino
Sem pé nem cabeça
Sem eira nem beira
Sem que nem porque


A poesia quando solta, depois de muito trancafiada, fica assim...desorientada...

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Sensatez


Faço teatro para expressar a minha dor, minha angústia, meu silêncio

Faço teatro para expressar o que ainda balbucia em mim, o que ainda se ancora, sobrevive

Faço teatro para alcançar o inexplicável, no amor ou no ódio, o que não tem nome, o que não se diz

Por falta de coragem, por pura covardia travestida de inconsciência

Faço teatro pra me desafogar, para te provocar com a minha catarse, com a minha desordem orgânica

Faço teatro para sobreviver ao mal, ao caos instalado em mim que só você consegue me mostrar.

domingo, 24 de maio de 2015

Planos mesquinhos


Mais uma morte, menos impotência desta vez, pouco menos
Impossível seguir normalmente num dia de morte
O dia fica turvo, reflexivo, como que numa tentativa permanente de compreender mais uma peça do quebra-cabeça
Extrair mais algum vislumbre de verdade

A morte traz mesmo a lembrança da verdade e com ela a lembrança da fragilidade
Absoluta fragilidade
Segurança, apoio em lugar nenhum, nunca
A morte faz cair a cortina do disfarce, das máscaras, todas elas
Qualquer convenção cai por terra diante da morte
Ela nos obriga a ir às profundezas, a revirar todas as águas paradas nos esgotos nossos
Não fica nada igual, nada acomodado, nada mascarado

É um convite, ou melhor, uma convocação à verdade
Ninguém escapa, por um instante que seja, a ter um vislumbre de verdade, plenamente atemporal
Fica registrado no ser, como um deleite, um refúgio para os momentos de confusão

Rituais à parte, é o puro desconhecido
O mistério que invade a nossa vida tão certinha e cheia de planos mesquinhos.