Mais uma morte, menos impotência desta vez, pouco menos
Impossível seguir normalmente num dia de morte
O dia fica turvo, reflexivo, como que numa tentativa
permanente de compreender mais uma peça do quebra-cabeça
Extrair mais algum vislumbre de verdade
A morte traz mesmo a lembrança da verdade e com ela a
lembrança da fragilidade
Absoluta fragilidade
Segurança, apoio em lugar nenhum, nunca
A morte faz cair a cortina do disfarce, das máscaras, todas
elas
Qualquer convenção cai por terra diante da morte
Ela nos obriga a ir às profundezas, a revirar todas as águas
paradas nos esgotos nossos
Não fica nada igual, nada acomodado, nada mascarado
É um convite, ou melhor, uma convocação à verdade
Ninguém escapa, por um instante que seja, a ter um vislumbre
de verdade, plenamente atemporal
Fica registrado no ser, como um deleite, um refúgio para os
momentos de confusão
Rituais à parte, é o puro desconhecido
O mistério que invade a nossa vida tão certinha e cheia de
planos mesquinhos.