quarta-feira, 4 de abril de 2018

Ator mentado


Sua ausência revela a minha fraqueza, minha doença, minha falta de ser
Traz a dor do descontentamento, expõe o fracasso de não saber brincar
Queria saber brincar desde sempre, mas não sei, preciso aprender
Tenho aprendido, tropeçando

Cansada de andar em areia movediça
Se ainda fosse água, nado bem
Especialmente em oceanos profundos e transparentes
Água turva também dispenso, o lodo não tem me feito bem, dá otite

Melhor mesmo é água doce, de rio que corre livre, mas com direção, com limpeza
Esbarra nas pedras, mas segue em frente, soberano, digno, fluído 
Água parada dá mosquito, adoece
Rio que é rio não pára. Segue 
Faz os contornos que as margens pedem, indicam e segue
Como se soubesse que eu o aguardo no mar.

domingo, 24 de setembro de 2017

Netuno e Plutão

Sonho, profundezas, distância da realidade
Qual? A dos fatos? Quais? Os fatos que percebi ou que você percebeu?
Atitudes duplas, movimentos contraditórios, olhares intensos
Sei o que você quer
Não sei o que você não quer

Mais uma vez o mesmo buraco de quase sempre
Pois bem, desta vez te acolho
Te percebo e te acolho
Acolho Netuno no seu devaneio incontrolável, no seu sonho que me traz dor
Acolho Plutão na sua dureza, na sua intensidade e no meu medo
Percebo e recebo vocês em mim
No meu céu, na minha alma, no seu olhar incompleto.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Dor orientada

Aquece a dor
Refrigera a dor
Liberta a dor

Daí repete o procedimento, alternando a ordem para desordenar a dor

Refrigera a dor
Aquece a dor
Liberta a dor

Frio escaldante
Aquecimento global
Tudo fora do lugar

Da origem ao destino
Sem pé nem cabeça
Sem eira nem beira
Sem que nem porque


A poesia quando solta, depois de muito trancafiada, fica assim...desorientada...

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Sensatez


Faço teatro para expressar a minha dor, minha angústia, meu silêncio

Faço teatro para expressar o que ainda balbucia em mim, o que ainda se ancora, sobrevive

Faço teatro para alcançar o inexplicável, no amor ou no ódio, o que não tem nome, o que não se diz

Por falta de coragem, por pura covardia travestida de inconsciência

Faço teatro pra me desafogar, para te provocar com a minha catarse, com a minha desordem orgânica

Faço teatro para sobreviver ao mal, ao caos instalado em mim que só você consegue me mostrar.

domingo, 24 de maio de 2015

Planos mesquinhos


Mais uma morte, menos impotência desta vez, pouco menos
Impossível seguir normalmente num dia de morte
O dia fica turvo, reflexivo, como que numa tentativa permanente de compreender mais uma peça do quebra-cabeça
Extrair mais algum vislumbre de verdade

A morte traz mesmo a lembrança da verdade e com ela a lembrança da fragilidade
Absoluta fragilidade
Segurança, apoio em lugar nenhum, nunca
A morte faz cair a cortina do disfarce, das máscaras, todas elas
Qualquer convenção cai por terra diante da morte
Ela nos obriga a ir às profundezas, a revirar todas as águas paradas nos esgotos nossos
Não fica nada igual, nada acomodado, nada mascarado

É um convite, ou melhor, uma convocação à verdade
Ninguém escapa, por um instante que seja, a ter um vislumbre de verdade, plenamente atemporal
Fica registrado no ser, como um deleite, um refúgio para os momentos de confusão

Rituais à parte, é o puro desconhecido
O mistério que invade a nossa vida tão certinha e cheia de planos mesquinhos.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Ainda não sei bem como somos


Tentativas falhas
Recursos ausentes
Silêncio, perplexidade
A sequência de fatos inesperados gera dor, pânico
O desconhecido finalmente se apresenta e sinto medo

Dele, de mim
Do resultado, da falta de um
Da mudança, da inércia
Medo se fico, medo se vou

Agora é assim
Sinto sentimentos o tempo todo, feito gente de verdade
E não me acostumo a ser gente
Que se arrepende, muda de ideia, desfaz o roteiro, desiste de ir e se arrepende de novo

Dúvida, agora tenho dúvida
Várias
De tamanhos, cores e formas diferentes
Todas espalhadas em mim, lá e cá, ontem e amanhã, ele ou ela
Todas são minhas, todas sou eu
E eu, ainda não sei bem como somos...

sábado, 26 de julho de 2014

Parece, mas não é


Sei que o que penso e sinto não sou eu
Sei que o meu desejo é desequilibrado, obscessivo e que isso não tem nada a ver com a sua crueldade, porque essa é sua e só tem a ver com a sua falta de amor
Sei que tudo isso não é tão verdadeiro quanto parece, mas ainda assim choro
Se soubesse mesmo, como ainda pode ser sabido, certamente não sofreria, porque saberia
De fato
E não de superfície intelectual

E se o meu desejo tem natureza inerente frágil, apesar de aparentar fortaleza, pode ser desmascarado, ao menos enfraquecido
Como uma flor que murcha sem o vigor da luz, do ar, da água
Se eu olhar bem para a obscessão, com olhar fixo para ver através da sua aparência vigorosa e tão supostamente concreta e real, será que ela segue assim ou se desmantela também frágil ?

E o desejo obscessivo, então, quem sente mesmo ele? Quem é essa autora, tão senhora de si, que perde toda a liberdade em prol do vício?
Quem é esse eu que parece todo poderoso, mas não passa da extensão dessa farsa
Ou seria o desejo-todo-poderoso a extensão do autor farsante?

Seja como for, ambos não são dois e não passam de vento travestido de montanha, que se esfarela mais a cada olhar observador e absolividor lançado, que pouco a pouco desmonta carinhosa e pacientemente o circo dos palhaços obscessivos.