Sei que o que penso e sinto não sou eu
Sei que o meu desejo é desequilibrado,
obscessivo e que isso não tem nada a ver com a sua crueldade, porque essa é sua
e só tem a ver com a sua falta de amor
Sei que tudo isso não é tão verdadeiro quanto
parece, mas ainda assim choro
Se soubesse mesmo, como ainda pode ser
sabido, certamente não sofreria, porque saberia
De fato
E não de superfície intelectual
E se o meu desejo tem natureza inerente
frágil, apesar de aparentar fortaleza, pode ser desmascarado, ao menos
enfraquecido
Como uma flor que murcha sem o vigor da
luz, do ar, da água
Se eu olhar bem para a obscessão, com olhar
fixo para ver através da sua aparência vigorosa e tão supostamente concreta e
real, será que ela segue assim ou se desmantela também frágil ?
E o desejo obscessivo, então, quem sente
mesmo ele? Quem é essa autora, tão senhora de si, que perde toda a liberdade em
prol do vício?
Quem é esse eu que parece todo poderoso,
mas não passa da extensão dessa farsa
Ou seria o desejo-todo-poderoso a extensão
do autor farsante?
Seja como for, ambos não são dois e não
passam de vento travestido de montanha, que se esfarela mais a cada olhar
observador e absolividor lançado, que pouco a pouco desmonta carinhosa e
pacientemente o circo dos palhaços obscessivos.