sábado, 26 de julho de 2014

Parece, mas não é


Sei que o que penso e sinto não sou eu
Sei que o meu desejo é desequilibrado, obscessivo e que isso não tem nada a ver com a sua crueldade, porque essa é sua e só tem a ver com a sua falta de amor
Sei que tudo isso não é tão verdadeiro quanto parece, mas ainda assim choro
Se soubesse mesmo, como ainda pode ser sabido, certamente não sofreria, porque saberia
De fato
E não de superfície intelectual

E se o meu desejo tem natureza inerente frágil, apesar de aparentar fortaleza, pode ser desmascarado, ao menos enfraquecido
Como uma flor que murcha sem o vigor da luz, do ar, da água
Se eu olhar bem para a obscessão, com olhar fixo para ver através da sua aparência vigorosa e tão supostamente concreta e real, será que ela segue assim ou se desmantela também frágil ?

E o desejo obscessivo, então, quem sente mesmo ele? Quem é essa autora, tão senhora de si, que perde toda a liberdade em prol do vício?
Quem é esse eu que parece todo poderoso, mas não passa da extensão dessa farsa
Ou seria o desejo-todo-poderoso a extensão do autor farsante?

Seja como for, ambos não são dois e não passam de vento travestido de montanha, que se esfarela mais a cada olhar observador e absolividor lançado, que pouco a pouco desmonta carinhosa e pacientemente o circo dos palhaços obscessivos.

Personagem Perpétuo


Uma incoerência do início ao fim que até hoje ainda me tem perplexa, incrédula
Só é capaz de compartilhar o personagem, a mesma vítima de ontem que é perpetuada e revitalizada a cada novo encontro
A vítima indefesa que precisa ser resgatada, salva por uma mulher brava, guerreira e otária, bem idiota mesmo
Aquele tipo de mulher que, uma vez ativada a sua compaixão ou o seu amor, torna-se cega e se transforma toda em cuidados, carícias e compreensão sem fim

E o persogame se perpetua…
Como um vampiro bem intencionado, suga toda a sabedoria, os sonhos, as juras e as alegrias da mulher-herói
Depois, abastecido, segue viagem
Sem recordações, registros, nem lamentos

Segue com seu personagem que não é teórico nem prático, bonito nem feio, bom nem mau
É apenas personagem de desenho desanimado
Sem graça, sem vida, sem inspiração própria, sem bússola
É o personagem perpétuo, que nunca foi deixado para trás
O personagem foi capaz de inebriar o ator que, agora, confuso, pensa ser personagem…