quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cores, carnes e sonhos


Mágica se faz na poesia, no papel em que escrevo
E que mudo à minha maneira
Com estes símbolos que não são todos que compreendem e menos ainda são os que os absorvem
Com os olhos, aqueles da alma, os das profundezas do inferno e do paraíso que somos

E é do magnificente conflito que vivo e que vos falo com tristeza e alegria
Comunicando minha morte e ressurreição
Daquelas cinzas, daqueles tempos de Avalon

Sempre brava, sigo temendo o que me aguarda de pronto
E estática e impávida posso ficar estagnada séculos sem um só passo arriscar
E salva, sem nada a perder

O conflito dos guerreiros que sorriem nas horas das piores batalhas
Quando choram prévia e posteriormente por tudo o que perderam e deixaram de ganhar

Dos tempos antigos dos cavalos e tronos
Vem o suave peso da memória que teima em sobreviver na minha mente e conduz meu corpo aos locais indesejáveis do passado, que já tomou forma no hoje
Antes que eu pudesse ler o script

Amando mais que odiando, não importa
Cumpro o papel da donzela mal amada e adorada por todos desta Côrte de Babel
E acreditem, se quiserem
Sou uma
Uma infinita mistura de cores, carnes e sonhos

1997

Amanhã


Só assim durmo na paz dos grandes
Só assim fico livre da mente minha
Só assim me dou descanso
Todos dormem e eu escrevo
Todos sonham e eu escrevo
Todos comem e eu engordo

Mágica mistura dos tons da roupa que liberta a quem quiser
Pode, poder tudo, se quiser
Se quiser ganhar a loto ou comprar pão, tanto faz
Amanhã cedo vou trabalhar para ser livre do dinheiro
Não o quero, mas infelizmente o querem por mim
Também não o quero mal
Apenas não o quero
Amanhã cedo é capaz de eu receber o meu primeiro salário meu
Para quem será que vai?
Para loja ou para o mendigo
Amanhã à tarde decido

1997

Superfície 2


Superficialidade indesejada, evitada, presente
Por toda parte, enfermidade generalizada, já contaminada, impregnada
Peste contagiosa para os fracos, não os oprimidos, só os opressores
É a maior prova de que saco vazio não apenas pára em pé, mas também caminha e finge que faz
Ocupa o tempo pra esquecer, pra não lembrar que pouco é, que pouco sabe, que pouco faz, que pouco pensa, que pouco sonha...quase nada

Não satisfeito, ocupa ainda o tempo alheio pra satisfazer sua superfície medíocre e plana
Ocupa espaço, atormenta, fala, fala demais...do que não sabe e do que acredita saber
Acredita em nada, em ninguém
Teme tudo, todos, a começar por si
Vazio, vazio, vazio
As profundezas da alma, do ser, são bem mais livres do que a palavra da superfície
Do que o sopro do dragão

13/02/2005

Superfície


Vem pela superficie e nela fica
Sem eira nem beira, sem ter pra onde fingir
Fica se arrastando, procurando palco pra representação opaca, tardia e lenta
Lentidão do amante que não sente, não enxerga, mas ainda pensa
Pensa em que, quem
Pra aliviar a dor dos que não sofrem
Pensam sofrer por acharem que pensam...
Mas se esquecem que nunca sentiram
O que são, o que foram, muito menos o que podem vir a ser
Desconhecem, ignoram, subestimam
Amam pouco, quase nada

13/02/2005

Herói meu



Escrever poesia para não me afogar no pranto que não sai de mim
Ele fica e me diz que é preciso resistir, seguir sem revolta
Qual será o produto da copulação da raiva com a tristeza?
Quem será que pode conter o fluxo que já não segue mais?
Para onde será que foi toda a vida do menino que agora dorme entubado, sabe-se lá até quando?

Definitivamente o papel de boazinha nunca foi meu
Bem que tentei, mas o fígado não deixou
Contou tudo a todos e me deixou sem ter para onde ir
Às vezes nem acredito que voltei a raciocinar e escrever rápido, tão diferente daqueles dias macabros

Hoje os dias não são meus...são do pequeno herói que atravessa a tempestade, subindo montanhas e desbravando o desconhecido
Esse é o único herói de verdade


Rio, 19/2/2011

Desencaixe equânime


É como se eu tivesse me distanciado do corpo
Há agora um hiato, um intervalo, um espaço, um desencaixe
Acho isso bom...a vida passa com menos apego e mais distância, sem deixar de estar viva

É como se, de alguma maneira, eu agora, depois do vulcão fulminante, morasse mais perto da morte
Não a versão mórbida, esteriotipada
Mas a versão que me coloca de frente para a vida
Como se agora, por causa dessa morte serena e presente, houvesse mais verdade na minha ação de corpo, fala e mente
E verdade não é sinônimo de beleza
É só verdade mesmo

Vejo tudo passar e não sinto mais o costumeiro afinco e a determinação ilimitada do passado
Vou indo assim...sem muitas pretensões
A pretensão, sinônimo de arrogância, tem melhorado
Tenho esperanças que ao final desta vida consiga ter vislumbrado o significado da palavra humildade
A equivocada frase que marcou a adolescência “É difícil ser humilde quando se sabe que é o melhor” é o símbolo deste desvio
Ironicamente dita pelo Garfield...gato preguiçoso...!

O equívoco não está no fato de se achar o melhor nisto ou naquilo, mas em entender isto como mais relevante do que a nossa natureza equânime, da qual nenhum ser vivente pode escapar
O ponto é a importância que dou ao fato de supostamente “ser melhor” aqui ou ali, visto que qualquer coisa que eu possa ser melhor está limitada à frágil esfera do efêmero, ilusória, verdade relativa

Em suma, escrevo para que eu mesma possa ler e reler...
O aspecto equânime é superiormente relevante em relação a qualquer diferença
A informação da diferença entre os seres deve ser desprezada, vista como sem importância, penso
Só a equanimidade é absolutamente verdadeira


Rio, 11/2/2011

Sei que posso



O sonho da grande transformação
A intenção de sonhar com a ousadia de simplesmente ser
Além de tudo, de todos
Menor dos santos, mais alto dos humanos
Minha é ser mesmo o que sou e nunca outra coisa

Aqui jaz você junto a tantos fracassos, fracassado
Junto a toda moléstia que a tantos contagiou
Junto mesmo a você
Pena que mais não ficaram por aqui
Hoje não estariam perdidos por lá atormentando os atormentados de outro dia

Maravilhoso é ser livre
Da dor, do sofrimento
Da angústia, do pânico
Do ciúme do que nunca foi meu

Tantas vezes morri, morremos
Foram as que ressussitei e brilhei mais do que na véspera
Engraçado poder contar assim o que é sentido e transmitir via satélite o que pode ser mudado
Sei que posso, vou melhorar
Como a criança que a duras penas caminha e, ao cair, levanta-se
Vou sem medo de quase nada
Sigo pensando em todos os que ficaram para trás

Goiânia, 30/07/2000