quinta-feira, 5 de maio de 2011

Desencaixe equânime


É como se eu tivesse me distanciado do corpo
Há agora um hiato, um intervalo, um espaço, um desencaixe
Acho isso bom...a vida passa com menos apego e mais distância, sem deixar de estar viva

É como se, de alguma maneira, eu agora, depois do vulcão fulminante, morasse mais perto da morte
Não a versão mórbida, esteriotipada
Mas a versão que me coloca de frente para a vida
Como se agora, por causa dessa morte serena e presente, houvesse mais verdade na minha ação de corpo, fala e mente
E verdade não é sinônimo de beleza
É só verdade mesmo

Vejo tudo passar e não sinto mais o costumeiro afinco e a determinação ilimitada do passado
Vou indo assim...sem muitas pretensões
A pretensão, sinônimo de arrogância, tem melhorado
Tenho esperanças que ao final desta vida consiga ter vislumbrado o significado da palavra humildade
A equivocada frase que marcou a adolescência “É difícil ser humilde quando se sabe que é o melhor” é o símbolo deste desvio
Ironicamente dita pelo Garfield...gato preguiçoso...!

O equívoco não está no fato de se achar o melhor nisto ou naquilo, mas em entender isto como mais relevante do que a nossa natureza equânime, da qual nenhum ser vivente pode escapar
O ponto é a importância que dou ao fato de supostamente “ser melhor” aqui ou ali, visto que qualquer coisa que eu possa ser melhor está limitada à frágil esfera do efêmero, ilusória, verdade relativa

Em suma, escrevo para que eu mesma possa ler e reler...
O aspecto equânime é superiormente relevante em relação a qualquer diferença
A informação da diferença entre os seres deve ser desprezada, vista como sem importância, penso
Só a equanimidade é absolutamente verdadeira


Rio, 11/2/2011