Para que serve, então, a expressão da emoção se não causa mudança?
A criação artística é a materialização da emoção, a forma do abstrato
A forma da angústia, do medo, da covardia, da safadeza, da audácia, da alegria que não conheço
Mas por que encenar?
Será que escrever não basta?
É preciso materializar, a tal ponto, todo esse drama?
A arte pode ser qualquer coisa, mas será apenas a minha angústia, a minha emoção, do instante agora
Assim como uma foto retrata e registra a aparência, a obra expressa o que não se vê, só sente
Sente só
Um só caminho: de dentro para for a, caminho único para a criação
Talvez reproduzir o filme que a vida passa no teatro seja um caminho
Como escrever um livro para compartilhar a própria biografia…
Será que presta pra platéia?
Por que prestaria?
Será que o meu drama é o dela?
O meu medo, a minha dúvida, a minha omissão?
Não seria muita prepotência querer que o meu personagem seja sempre o protagonista?
A arte é a expressão da emoção
A dança, o teatro, a poesia, o quadro
Tudo o que sinto, mas não choro, nem rio, a arte conta pra mim
Sinto, sempre senti
Sinto tanto e tão fundo, que não cabe no sorriso ou na lágrima
Só a solidão me socorre nessas horas, onde a arte me espera sempre de braços abertos
Mas será que o autor, assim como o ator, não deve ser capaz de escrever com propriedade e se aprofundar além de seus próprios dramas, seu pequeno universo?
Ou essa é uma criação fadada à mediocridade e à limitação?
Talvez o próprio drama seja apenas o ponto de partida, o início da composição da obra
Será possível traduzir a angústia do não acontecido, numa cena?
Rio, outubro, 2010
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