Uma esquisitisse, uma falta de reconhecimento de mim
Angústia sem lugar, sem paradeiro
Um pano de fundo indefinido, incômodo
Energia precária, iniciativa duvidosa
Parece que espero algo que não vem
A indefinição ainda me apetece como a pior das vilãs
Nem lá nem cá, não ata nem desata, não caga nem desocupa a moita, não fode nem sai de cima
Como ficar mais ou menos grávida?
Como ir a qualquer lugar mais ou menos?
Como estirpar a nuvem cinzenta que deixa o tempo nublado?
O sofrimento alheio segue consumindo a minha paz, minha possível diversão
Não quero, mas vejo o homem estirado no chão, no meio, literalmente meio da calçada, sem que ninguém sinta a falta dele
Não quero, mas vejo os dois meninos, 10 e 12 anos, revirando a caçamba de entulho, separando papelões
Ipanema, zona sul do Rio, 23:40, sábado
Como ignorar, não perceber, não sentir?
Como não questionar, seja quem for, por essas e tantas outras atrocidades?
Impotência, incompetência, frustração
O sentimento de fracasso é o último que me invade e compõe o real quarteto malévolo
A inoperância minha, do sistema, de Deus, do carma, sua, todos juntos, resulta nesse cenário e na minha tristeza que agora dorme comigo.
Rio, 19/2/2011