segunda-feira, 25 de abril de 2011

Dorme comigo

Uma esquisitisse, uma falta de reconhecimento de mim
Angústia sem lugar, sem paradeiro
Um pano de fundo indefinido, incômodo
Energia precária, iniciativa duvidosa
Parece que espero algo que não vem
A indefinição ainda me apetece como a pior das vilãs
Nem lá nem cá, não ata nem desata, não caga nem desocupa a moita, não fode nem sai de cima

Como ficar mais ou menos grávida?
Como ir a qualquer lugar mais ou menos?
Como estirpar a nuvem cinzenta que deixa o tempo nublado?

O sofrimento alheio segue consumindo a minha paz, minha possível diversão
Não quero, mas vejo o homem estirado no chão, no meio, literalmente meio da calçada, sem que ninguém sinta a falta dele
Não quero, mas vejo os dois meninos, 10 e 12 anos, revirando a caçamba de entulho, separando papelões
Ipanema, zona sul do Rio, 23:40, sábado
Como ignorar, não perceber, não sentir?
Como não questionar, seja quem for, por essas e tantas outras atrocidades?

Impotência, incompetência, frustração
O sentimento de fracasso é o último que me invade e compõe o real quarteto malévolo
A inoperância minha, do sistema, de Deus, do carma, sua, todos juntos, resulta nesse cenário e na minha tristeza que agora dorme comigo.


Rio, 19/2/2011